Todo o chão se abre
No escuro, se acostuma
Às vezes a coragem é como quando a nova lua
Somos a discórdia
E o perdão
E nos esquecemos da cor que tinha o céu, assim
Como a saudade
Ou uma frase perdida
Durma, Medo Meu
Hmmm, não
Às vezes um "não sei"
Janela, madrugada, luz tardia
E o medo nos acorda
Para e bate o coração
Em pura disritmia
O medo amedronta o medo
Vela, madrugada, dia, assim
Como a saudade
Ou uma frase perdida
Durma, Medo Meu
Durma, Medo Meu – O teatro mágico
No escuro, se acostuma
Às vezes a coragem é como quando a nova lua
Somos a discórdia
E o perdão
E nos esquecemos da cor que tinha o céu, assim
Como a saudade
Ou uma frase perdida
Durma, Medo Meu
Hmmm, não
Às vezes um "não sei"
Janela, madrugada, luz tardia
E o medo nos acorda
Para e bate o coração
Em pura disritmia
O medo amedronta o medo
Vela, madrugada, dia, assim
Como a saudade
Ou uma frase perdida
Durma, Medo Meu
Durma, Medo Meu – O teatro mágico
Está frio... Está frio e silencioso...
O mundo é um grande porão, poeirento,
abandonado, escuro, isolado, habitado por fantasmas, pesadelos, sombras de
monstros que escalam as paredes e entram pelas janelas.
Eu, criança perdida, olho a tudo com
olhar estatelado de quem enxerga, mas não compreende a realidade que a cerca. De
caixas vazias surgem monstros, os barulhos são gritos e as tralhas envoltas em
sombras alimentam os temores da mente, se projetando em forma de seres que a
infância teme e só me convidam a fugir.
O medo pede fuga, distância, socorro.
Se teme o que não se conhece, o que não se compreende, o que não se explica e
nem se entende, o que não cabe em minha mente limitada e fechada.
Hoje tenho medos. Medos duas
naturezas. Medo por não poder saber e medo por saber demais.
Tenho medo desse mundo que não permite
a pergunta, que não admite a dúvida, o questionamento, a informação simples,
sem crítica, sem opinião, sem achismos ou desachismos, dedos em riste, volumes
de voz exaltados, placas e protestos.
Tenho medo por não poder mais me
informar antes de opinar, por não encontrar informação. Tenho medo, pois não
posso mais procurar saber sem ser colocada em cima de um muro que construíram
nessa democracia agressiva do Fla X Flu, que distancia a família, esvazia as
mesas de boteco, que se ergue entre os amigos e afasta os abraços e os
sorrisos. Tenho medo, pois não encontro mais o “saber” que vem apenas temperado
de pimenta, inflamado, cheirando a valores subliminares e entendimentos
particulares. Tenho medo dessa ditadura do protesto imediato e da perda do meu
direito de querer apenas saber antes de vomitar o que penso. Não pode! Não tá
certo! Pode sim! Tá tudo como deveria
estar! Ela não presta, nada que presta vem dela! Ele não presta, nada que
presta vem dele!
Tenho medo por ser uma “Poliana” nesse
porão frio que o mundo se fez, por ainda querer crer que nada pode ser de todo
ruim, ou de todo bom, só por estar sob determinada bandeira, sob determinado
nome, sob determinada cor.
Tenho medo de me perder nisso e
despertar a ira que acumulo por problemas meus lançando-a na fogueira dos
problemas coletivos e inflamando um incêndio que eu não posso controlar. Isso
por não poder simplesmente saber... por não ter como saber... por não ter meios
de me informar... por ter que me questionar em silêncio e não encontrar quem
queira ouvir das dúvidas que tenho sem questionar que camisa uso, que time
defendo, em quem votei ou não.
A liberdade defendida é bandeira
obrigatória e não se pode questionar... Luta! Protesta! Não lê! Não discute!
Assume! Tá contra? Tá a favor? Desce daí menina!
E de cima do meu muro enxergo a tudo
chocada e cansada, trazendo em mim ainda o medo de saber demais.
Vejo o mundo à minha volta com os
olhos deseducados de quem se julga certa, moral, adequada. Vejo e critico.
Classifico, seleciono, opino, etiqueto. Antes de ver, já tenho uma opinião que
enquadra o outro e o limita à minha perspectiva de viver, de ver, de ser.
Meu olhar a tudo comporta e conforma
nas prateleiras de meus conceitos pré-constituídos do que pode ou não pode ser.
Sei demais da vida, sei demais do viver, sei o que cada um deveria ou não estar
fazendo e isso me sufoca de uma insatisfação, que na verdade é por talvez não
me ver fazendo tudo aquilo que poderia ou deveria fazer.
Estou sozinha nesse porão repleta de
conceitos que carrego e que nas sombras da noite se fizeram monstros e me
impedem de prosseguir ou de enxergar mais além. Acumulo tralhas em traumas que
conformam a realidade à maneira que me ensinaram a enxergar.
Talvez o desejo de querer saber mais
antes de opinar venha dessa solidão que as caixas em meu sótão trouxeram:
entulhadas me afastam da verdade do outro que se mostra a mim como é e não como
eu gostaria de vê-lo. Conceitos que vejo gritando nas falas alheias gritam em
minha mente no meu Fla x Flu, no meu muro, na minha ditadura solitária de um
viver repleto de preconceitos que, a bem da verdade, nem sei mesmo se são meus,
se quis segui-los ou como é que vieram parar aqui.
Medo que me chama à fuga todo dia,
espera um minuto. Dorme um pouco. Aquieta. Deixa eu ver o que esse porão
esconde. Deixa eu ver o que tem aqui e o eu que posso aproveitar. Nem tudo isso
é tralha. Nem tudo é só poeira. Nem tudo está certo, mas nem tudo está errado
também. Mas eu tenho o direito de saber e de poder escolher quais dessas caixas
e monstros eu preciso e quero defender e carregar.